ANÁLISE MORFOSSINTÁCTICA DOS MORFEMAS -UR- E -AM- NO CIWUTEE
Resumo
Os morfemas são unidades mínimas de análise morfológica. Tendo em conta este pressuposto, nota-se que, para captar os traços paramétricos das unidades morfológicas, é necessário que seja feita uma exploração no seu campo maior (morfologia). O foco da pesquisa são os morfemas que podem ocorrer antes e ou depois da base. A pesquisa tem como objectivos analisar, testar, caracterizar e distinguir os morfemas -ur- e -am-, numa perspectiva morfossintáctica e léxico-semântica. Para o efeito, usou-se o teste distribuição, as teorias Princípio de Espelho Baker (1995) e Incorporação Baker (1988) para aferir a existência de alguma linearidade e possíveis restrições léxico-semânticas na concatenação de unidades derivacionais que, por sua vez, podem estabelecer uma relação com o mundo extralinguístico. Com estas abordagens teóricas, pretende-se aferir a real categoria de morfemas -ur- e -am- que, em algumas línguas bantu, funcionam como extensões verbais fossilizadas. Os objectivos arrolados remetem-nos à questão “será que os morfemas -ur- e -am- comportam-se como extensões verbais e qual é a real categoria morfossintáctica e léxico-semântica das bases que os agregam no Ciwutee? As possíveis respostas que advém da pergunta acima são: a) os morfemas -ur- e -am- comportam-se como extensões no Ciwutee; b) os morfemas -ur- e -am- estabelecem restrições morfossintácticas e léxico-semânticas destintas, diante das bases que os agregam e; c) os morfemas -ur- e -am- são extensões fossilizadas no Ciwutee. Usando a abordagem qualitativa, o método bibliográfico e a Introspecção, assim como, o teste distribuição foi possível concluir que -ur- é uma extensão verbal que se junta às bases verbais com semântica de movimento cíclico e -am- não é uma extensão, mas sim, um verbalizador que se junta, apenas, às bases ideofónicas. Esta conclusão geral foi dada por 84.7 % de informante do universo de 100% de amostra justificativa.
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